quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A NOSSA CLÁUDIA


"Erguendo a fala gritando Reforma Agrária,
porque a luta não para
quando se conquista o chão" (trecho da canção FLORIÔ)


“marcel,

era a nossa claudia!
meu Deus!
estou sem....marcel....

Sim, todos estamos sem...

Esse emeio do Gerson Dudus em resposta ao meu em que avisei da notícia sobre Claúdia resume tão bem o que sentimos todos assim que ficamos sabendo. O João através da namorada, a Luiza pelo João, o Thiago e eu pela Luiza, o Gerson e a Suzanne por mim. É Luiza, o peito apertou.

O peito apertou,

a garganta secou,

a cabeça parou,

as palavras fugiram da boca, e dos dedos.

Nada para falar, nada para escrever.

As fotos do “Índio” e da “Claudinha” anexas a mensagem

Que loucura!

Ontem, tive medo da noite.

Foi em novembro, dia 23 o enterro, dia 22 o fato, em 2009.

“Claudia do MST”, boa companheira. Sempre ressabiada, mapeando as características ideológicas de cada um. Sabia o que poderia ser dito e pra quem.

Tantos bons companheiros partindo assim, tanta gente boa...


Esse é o nosso país
Essa é a nossa bandeira
É por amor a essa pátria Brasil
Que a gente segue em fileira

Queremos que abrace essa terra
Por ela quem sente paixão
Quem põe com carinho a semente
Pra alimentar a nação
Quem põe com carinho a semente
Pra alimentar a nação
Amarelos são os campos floridos
As faces agora rosadas
Se o branco da paz se irradia
Vitória das mãos calejadas
Se o branco da paz se irradia
Vitória das mãos calejadas

Esse é o nosso país...

Queremos mais felicidades
No céu deste olhar cor de anil
No verde esperança sem fogo
Bandeira que o povo assumiu
No verde esperança sem fogo
Bandeira que o povo assumiu
A ordem é ninguém passar fome
Progresso é o povo feliz
A Reforma Agrária é a volta
Do agricultor à raiz
A Reforma Agrária é a volta
Do agrilcultor à raiz

CLAUDINHA... PRESENTE NA CAMINHADA

Vi as fotos, olhei o blog com a notícia e as fotos do enterro. A bandeira do MST...

Lembrei você contando sua história. Do Rio de Janeiro ao Assentamento Zumbi dos Palmares. Deixou a Cidade Maravilhosa para um sonho maravilhoso: reforma agrária e libertação do povo.

Estivemos muito próximos, de idéias, de utopias.

Nossos seminários no papel, as discussões por um outro jornalismo e por uma outra escola de comunicação...

Ainda acho engraçado, quando lembro de seus telefonemas. Todos com número restrito, e normalmente a cobrar.

Ora idéias de projetos cheios de ousadia e esperança, ora angústias e dificuldades do dia a dia, da casa, da família, de como pagar a faculdade. Nossa revista que acompanhasse os movimentos sociais da região, com equipe de formulação e editorial cuidadosamente escolhida, sempre com cuidado com a direita.

As ameaças de José Wagner, lembra? “Esses baderneiros de esquerda, do MST, eu não tenho pena”, e isso em sala de aula! A gente não deixava barato. E depois decidimos que era melhor não assistir as aulas dele.

Amiga das utopias.

Com a enxada na mão, pela Reforma Agrária, construir uma realidade nova, de vida plena, sem fartura, mas com o suficiente.

Aquela nossa mostra de cinema alternativo. Aquele jornalista que foi criticar a reforma agrária, o MST. A gente mandou bem discutindo o projeto popular pro Brasil. E você percebeu um engravatado nos vigiando, colocamos para correr.

Estivemos a sua procura, tentamos notícias, procuramos telefones seus... e te encontramos assim, meses depois.

Deixa de ser matéria e passa a ser mais uma mártir da luta, da caminhada. Dos que dão a vida pela vida de todos em um lugar melhor, um mundo melhor.

Valeu minha companheira, ainda bem que passamos alguns momentos juntos.

Por você, como a homenagem da bandeira que carregou contigo para eternidade, não cabe nem um minuto de silêncio, mas dedicação na luta pelas utopias que nos movem.


quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

SOU CULPADO ATÉ DA MEGA-SENA (Assista antes de ler)



O dem(ônio) está a solta.
E o pobre coitado é culpado de tudo.
Eu não ganhei a mega-sena da virada.
Agora está explicado.
O garis estão na boca do povo (pergunte ao Casoi)

O dem(ônio) está a solta.
E adota vários apelidos aqui por baixo (ou por cima?)
A culpa é toda dele ... coitado!
Já existe uma oração própria pra ele.

Ah, já ia esquecendo os apelidos:
Os mais próximos chamam de "senhor".
Mas ele mesmo prefere ser chamado de Cabral, Arruda...
Serra, Beltrame, Sylvio, Lopes, Mussi, Adrian, Riverton
E as versões femininas.
Garcia, Yeda, Marilena, Crusius, Garotinha, Angela, Guadagnin, Rosinha,

E tem até dança pra ele!

Mas coitadinho, ele não tem culpa.
Não tem culpa
dos panetones supervalorizados da Capital.
Do desastre do paraíso Ilha Grande,
Dos mortos em Angra.

Ele não tem culpa
das enchentes
que a cada vez mais invadem a minha casa e as dos meus vizinhos

Mas ele não tem mesmo culpa.
Dos jovens exterminados nas favelas do Rio e do Brasil pelo estado.
Das mulheres pobres que segundo ele "são fábricas de bandido".
Do Caveirão que quer invadir favela e deixar corpo no chão.

Ele não tem mesmo culpa.
Dos latifúndios
nem dos milhares de assassinatos de trabalhadores do campo
Dos torturados
dos desaparecidos
da fome
da injustiça
nem da violência.

A culpa não é dele.
Mas de algum Santo (Pedro, Vicente de Paula, Francisco de Assis)
ou do seu próprio concorrente direto.
Será que alguém aqui já ouviu aquela expressão:
"Foi Deus que quis assim"
ou aquela:
"Deus sabe o que faz"
e a melhor, que comprova que a culpa não é do Dem(ônio):
"A pessoa nasce rico ou pobre porque Deus quis assim".

É, a culpa é de Deus.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

MUDANÇA DE VERBOS




A esperança deve ser do verbo esperançar.
Esperança do verbo esperar não dá mais, já tivemos o bastante.



CARTA À REPÚBLICA - MILTON NASCIMENTO

"Sim é verdade, a vida é mais livre

O medo já não convive nas casas, nos bares, nas ruas
Com o povo daqui
E até dá pra pensar no futuro e ver nossos filhos crescendo e sorrindo
Mas eu não posso esconder a amargura
Ao ver que o sonho anda pra trás
E a mentira voltou
Ou será mesmo que não nos deixara?
A esperança que a gente carrega é um sorvete em pleno sol
O que fizeram da nossa fé?

Eu briguei, apanhei, eu sofri, aprendi,
Eu cantei, eu berrei, eu chorei, eu sorri,
Eu saí pra sonhar meu país
E foi tão bom, não estava sozinho
A praça era alegria sadia
O povo era senhor
E só uma voz, numa só canção

E foi por ter posto a mão no futuro
Que no presente preciso ser duro
E eu não posso me acomodar
Quero um país melhor"


2010 AOS 17


Hoje era o dia de encontrar a todos. Acelerar, tomar um gole daquilo que não conhece. Paolo Almeida e Juanita Alberes. Se encontraram no reveillon de 2009 para 2010. A adolescência colocava muitas interrogações em frente a visão.
Sentiram o encanto de um e de outro. A primeira vez que o carro do pai estava em sua mão. A carteira ainda não havia se feito real. Mas o reveillon, talvez trouxesse uma das melhopres passagens de ano de sua vida até os 17 anos.
Juanita apareceu enquanto ele ainda jogava futebol à beira da Playa Brava em Arica, no Chile. Encontrou muita dificuldades para organizar os dois times, e aos melhores moldes cariocas colocar duas havaianas em cada lado do campo para marcar as duas metas.
Juantia chegou para assistir ao jogo como se estivesse presenciando uma disputa entre Brasil e a Seleção do resto do Mundo de Futebol de Areia.
Ao terminar, a bola e dois dos 4 pés de havainas eram de Paolo. Juanita, pequenina, envergonhada e de poucas palavras perguntou: "não quer tirar a areia do corpo? "eu vigio as suas coisas." Na mesma hora, sem muita duvida foi dar uma mergulho na praia e livrar o corpo daquela sensação de ter areia por todo o corpo e as canelas todas arranhadas pelo atrito com os demais peladeiros.
Na volta, poucas foram as palavras. Apenas os dois estavam ali, os demais haviam ido para casa.
Resolveram ficar ali, apreciar o pôr do sol chileno, de Playa Brava. De acordo com os frequentadores de lá é o momento mais fascinante elaborado por Deus.
Ficaram ali, esperando e o por do sol, rindo das poucas habilidades de futebol de Paolo e planejando o 2010 de cada um.
Nos dois planos: nem Juanita estava no que Paolo imaginava e nem Paolo no que Juanita desenhava.
Perceberam este detalhe, que faria daquele momento, pouco significativo. Decidiram ficar ali, inspirados pelo por do sol até o nascer do sol.
Ele 17 e ela 16. Acompanharam os fogos da virada, falaram de sonhos, músicas e até futebol. Pensaram o 2010 juntos e também separados. Dormiram no mesmo local, após todas as celebrações de ano novo. Até oferenda para Yemanjá e o pulo das sete ondas fazem parte das festividades de ano novo no Chile.
Acordaram, mergulharam na praia e almoçaram em casa.
O que será em 2010? Só o destino ou o coração darão as respostas.