segunda-feira, 30 de abril de 2012

O MURO, A POLÍTICA E A BARGANHA


“Você é nosso aliado ou inimigo?” A pergunta foi feita em 1978 por Luiz Inácio Lula da Silva a ninguém menos que Florestan Fernandes, logo assim que o PT nascera. Como resposta obteve um: “isso não pega comigo... quero que (o PT) defina seu programa, esclarecendo melhor quais as opções que envolvem a sua presença como núcleo da classe trabalhadora”.

Pouco mais de dez anos dessa conversa, caia por terra o muro de Berlim. Aquele muro, como todos devem saber, dividia o mundo em dois – capitalista (ocidente) e comunista (oriente). A publicidade, a literatura, os movimentos políticos, a ideologia, a forma de produção, a política. Tudo era considerado a favor de um lado ou do outro.

O Brasil, por exemplo, na ditadura militar, acusava de comunistas, estudantes, movimentos de esquerda, militantes pela democracia e liberdade, padres, religiosos e todos que denunciavam as atrocidades do Estado Brasileiro regido à mão de ferro. A presidenta Dilma, ainda ministra de Lula, pronunciou-se no Senado, após provocação do “democrata” Agripino Maia, da seguinte forma: “Diante do pau de arara, do choque elétrico, da morte, não existe verdade. Dizer a verdade naquele momento significava condenar um igual a morte”. Ela completou afirmando que o seu provocador estava do lado oposto. Ela, torturada. Ele, bem, deu para entender.

Com o fim da ditadura brasileira, os lados se confundem. Com a queda do muro de Berlim, a ruína da União Soviética, os lados se confundem. Mais pra cá, com a ascensão do PT ao Governo Federal, os lados se confundem. Nem lado de lá, nem lado de cá. Tratemos dos que ficam trepados no muro.

Uma vez, ouvi uma comparação dizendo que tal partido político seria o partido do ônibus. Não interessa o itinerário, se vai virar à esquerda, à direita, o que importa é estar no ônibus. Pois bem, atribuem a alguns movimentos mais radicais de serem contra tudo e contra todos. Você já deve ter ouvido a expressão “Há governo, sou contra”.

Hoje, a moda é há governo, sou a favor. E para isso vale tudo. Pesquisas eleitorais apontam quem deve ou não vencer e isso determina qual movimento deve ser feito. Lógico, muito cuidado, muita calma, muito cargo. Não se pode perder nada, nenhum centavo a menos. Na política, costumava-se ouvir outra expressão, aparentemente orientada por Maquiavel, dar um passo atrás para dar dois pra frente depois.

Pasmem! Um passo atrás, até dois, talvez dezenas. Mas, um cargo a menos, um Real a menos no orçamento, nunca! Assim não dá, assim não pode. O muro é um perigo para quem é pego de saia justa, mas é um ótimo lugar para quem finge ser bonzinho. Apesar de parecer superior, o andar de cima do muro não deixa visível os movimentos e as decisões de quem lá está.

Após 30 anos, Macaé tem dois lados. O mais do mesmo, quase um negócio de família. E, o da mudança. Mas um lado e outro devem estar assustados. Quanta gente no muro! Chegar perto é necessário, mas logo a profundidade do pires que acompanha a mão afasta. A hora é essa, o pires vazio, ou melhor, sem fundo precisa estar em segundo plano.

Façamos as escolhas, sejamos claros, Macaé merece mudar. Mudar com lado, com programa, projetos sérios, princípios. Sem muro e sem pires. A quem interessar, fica o apelo: desce do muro!