segunda-feira, 26 de julho de 2010

AS PRINCIPAIS PROPOSTAS, OU OS CRIMES DE 30 ANOS


Os últimos 30 e poucos anos foram marcados por um revezamento uniforme e familiar na condução das prioridades de Macaé. E, como não poderia ser diferente numa capitania hereditária, a prioridade principal é a manutenção do poder e beneficiar sempre os mesmos. A população nunca foi prioridade.

Existe um sentimento intenso de mudança já há algum tempo. E já demorou muito. O dinheiro como numa enxurrada fazia a diferença no final das contas. Entretanto, é chegado o momento. A população descobriu que não basta apenas um benefício imediato, passageiro.

Caminhando pelos cantos da cidade, tão rica, tão rica, é muito fácil perceber que a cada dia, a cada ida e volta para o trabalho, a cada passagem na roleta, a cada chuva, a mudança é inevitável. O ciclo familiar acabou. A esperança do povo está travando uma grande batalha contra o medo imposto pelos poderosos. E, sairá vitoriosa e forte.

Quais as propostas dos últimos 30 anos? Quem se atreve a responder? O que foi proposta e o que foi oportunismo e por isso não vingou? Quais são? Quais foram? Quais serão?

Apagão na saúde, denúncias de mortalidade infantil no Hospital Público. Criança recém-nascida morta que o pai nem a mãe poderiam enterrar. Falta de leitos, pessoas pelos corredores, seres humanos esquecidos. Proposta: política do descaso na saúde.

Vias e transporte intransitáveis. Lotações exorbitantes no transporte público, preços mais caros do país, viagem demoradas e perigosas, falta de respeito com o cidadão, o trabalhador, o estudante. Trânsito impraticável, cada dia mais carros nas ruas, canteiros maiores que pistas, falta de sinalização, asfaltos de péssima qualidade, fábricas de multas. Propostas: Política do caos e da submissão a empresa de transporte.

Mortalidade de jovens a números recordes. Violência, falta de oportunidades e de tranqüilidade para os jovens. Ausência de planejamento para desenvolvimento continuado das regiões em processo de favelização. Proposta: Criminalização da população fora do eixo do petróleo, dos desempregados e das populações mais pobres.

Concentração de terra, grilagem e incentivo a ocupação irregular. Macaé ocupa hoje, a segunda colocação em concentração de terra no estado do Rio. Perde apenas para os usineiros de Campos. Enquanto isso aumenta o número de moradias a beira do Rio Macaé. Nova Holanda, Nova Esperança, Nova Malvinas, Novo Rio, Ilha Leocádia. Tudo isso, estimulado pelos grileiros oficiais do poder público. A mesma família do poder se diz dona de áreas como a nova esperança, e depois é o povo que não pode ter terra lá. Proposta: Política de latifúndio, grilagem e da favelização permanente.

Centro de convenções? Monumento ao desperdício do dinheiro do petróleo? Ginásio Municipal? Terminais de ônibus? Parque da cidade? Condomínio cidadão? Estação de tratamento de esgoto? Mais alguma?

Uma cidade, um estado e um país precisam de propostas permanentes, que propiciem ao povo a situação de plenitude da vida, dos bens produzidos pelo próprio povo e dos momentos de lazer após uma semana intensa de trabalho para o desenvolvimento de uma cidade que não quer se desenvolver. O modelo que está aí faliu, acabou, não teve propostas que libertassem seu povo.

Macaé merece mudar, assim como o Brasil mudou e vai seguir mudando!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

METADE DA TAÇA

A taça de vinho ainda estava pela metade. Ela não aguentou e foi dormir. Continuei a beber o vinho da serra gaúcha.
Não gosto muito, mas também não era lá dos piores.
A noite passava e ela dormia.
Em cima da mesa, flores amarelas e vermelha.
Também a santa negra que surgiu no fundo de um rio, a cara do Brasil.
Era como se tentassem me convencer de tudo o que acredito.
Numa fé com cara de povo, num amor regado a flores e numa amada mergulhada em sonhos.
A única coisa que não me convence é esse vinho tão doce e amargo que mais parece feito de rosas e não de uvas.
Viva a todos os que sonham, viva a todos os que dormem e viva quem sabe amar. Mesmo que talvez eu não mereça, eu também amo.
Por isso sonho,
por isso durmo,
por isso luto,
por isso escrevo,
por isso bebo vinho com ela.
Amor, sua taça está pela metade, em cima da mesa.

HISTÓRIAS DE ESPERANÇAS E DE VIDA¹


Naquela hora da escolha do texto, música, poesia, reportagem ou fotografia para discussão no encontro semanal do Grupo Jovem Novo Tempo na Igreja da Glória em Macaé-RJ, sem saber, uma pergunta vinha meio que sem querer: qual a relação entre Fé e Política? Lógico que não com esse formato, mas com a objetividade de tentar descobrir junto com os jovens, o que nossa Fé e as propostas do Evangelho tinham a ver com o outro mundo que sonhávamos.

As perguntas foram se somando as ações concretas dos jovens. De grupo jovem da Paróquia juntamos outros jovens de outras Paróquias e crescemos na caminhada. Esses jovens assumiram a coordenação Vicarial da Pastoral da Juventude e a necessidade de aprender mais e atuar mais diretamente na mudança da realidade dos jovens de Macaé e cidades vizinhas. A região, muito conhecida pela indústria do petróleo é uma das mais violentas em relação a juventude. A fé no Deus que é vida não nos deixou ficar quietos diante dessa realidade. Isso era 2005.

Em setembro, o Grito dos Excluídos acontecia pela segunda vez na região. O Padre Mauro, de Rio das Ostras liderava a atividade. Fomos participar. Comunidade de Cantagalo, área rural. Começou como acampamento do MST no início dos anos 1990. Lá encontramos algumas 20 ou 30 pessoas. Ivânia Ribeiro, professora, companheira, fundadora do PT, vereadora de Macaé de 1993 a 1996 apoiou o acampamento de Cantagalo e alguns outros da região. Nós, da PJ tivemos um momento de dinamizar a mística. “Brasil: em nossas mãos a mudança” era o lema do Grito. Montamos a bandeira do Brasil com cartolina e cada um dizia o que sonhava para o Brasil. Enquanto cantávamos “Esse é o nosso país, essa é nossa bandeira”. Assim o grupo foi tomando forma.

Em 2006 não teve jeito. Um ônibus com jovens de Macaé, Rio das Ostras, Carapebus, Quissamã, Conceição de Macabu e mais um micro-ônibus de Rio das Ostras partem na noite de 9 de março para, durante os dias 10 e 11 em Vitória participarem do V Encontro Nacional de Fé e Política. De Rio das Ostras estava uma menina que com olhos e sorriso de esperança. Era a Mariane. Tem início uma outra história dentro da caminhada. História que encanta e reanima.

A partir daí tudo passa a ter Marcel e Mariane. O V Encontro foi simbólico.

Talvez tenha sido o momento das alianças. Aliança com a mulher do sonho, e aliança com o sonho de mundo, tudo no mesmo momento. Plínio de Arruda, Frei Betto e muitos outros debatendo conosco a necessidade de Profetismo no Exercício do Poder. A plenária de Políticas Públicas para a Juventude. Ali percebi que muitos outros acreditavam num mesmo Deus. O Deus que nos fez nascer num paraíso, nós estragamos o presente e ele ainda enviou seu Filho para nos apontar o caminho. Um Deus que nos quer revolucionários, assim como Jesus Cristo.

Após o Grito dos Excluídos de 2006 nasceu o grupo Militantes do Reino. Gilberto e Cléa, Bárbara e Amilton, Edmilson, Pe Mauro, Marcel e Mariane, Magnum, Lurdinha, Ricardo Ninja, René. O grupo se tornou um espaço privilegiado para fortalecer nossa espiritualidade libertadora e de continuar a responder aquelas perguntas.

2007 casamos. Em outubro eu e Mariane concretizamos a aliança que teve início em Vitória. E depois fomos todos a Nova Iguaçu, para o Sexto. Mais uma vez novas experiências. Ficar ao lado de Leonardo Boff na plenária geral não estava nos planos nossos. E ver Dom Clemente Isnard, primeiro bispo de nossa Diocese dar seu apoio e manifestar solidariedade aos pobres e excluídos reforçou a esperança tão calejada numa Diocese tão fria quanto a serra de Nova Friburgo.

Não paramos mais. 2008 nas eleições municipais lutamos contra os ficha suja e iniciamos a campanha pelo projeto que proíbe maus políticos de disputar eleições. Realizamos debates com candidatos, distribuímos cartilhas sobre como votar. Colaboramos para bons frutos. Em uma conjuntura muito ruim, é eleito um jovem para a Câmara Municipal, Danilo Funke do PT. Não aceitou as políticas adesistas do PT na cidade e ganhou a eleição. Nosso companheiro e amigo.

2009 tivemos grandes momentos. Maria Eloá nasce em fevereiro. Fruto da militância, da esperança e do amor que alimenta o sonho. Em junho I Fórum Regional de Fé e Política, em Macaé. Esperávamos poucas pessoas, o número de participantes surpreendeu. Faltaram bolsas e camisas. Mas as cerca de 50 que participaram puderam conhecer o movimento e aderir. Passamos a ter um problema de identidade. Não dava mais para ser Movimento Fé e Política Macaé e Rio das Ostras, passamos a nos identificar como Movimento Fé e Política Litoral.

Em novembro fomos a Ipatinga para o 7º. Alguns foram de ônibus, outros de carro. Optamos pelo trem. Eu, Mariane e Maria Eloá juntamos Magnum, Ricardo e meu pai e fomos até Vitória- ES, embarcamos no trem e chegamos a Ipatinga-MG. Viagem linda e experiência maravilhosa. “Espiritualidade, Ecologia e Economia”, acumulamos mais na caminhada, nos articulamos, levamos novas pessoas para participar e foi mais um momento especial. Maria Eloá estava lá. Para nós ela representa essa gestação de um mundo melhor. Todos os encontros, as pessoas cheias de esperança se encontram e podem conquistar um mundo melhor. Nós já temos um mundo melhor, com Eloá. Mas lutamos por um mundo melhor para ela e queremos que ela sonhe esses sonhos, lute as lutas do povo e seja cheia de esperança como seu pai, sua mãe e todos que esbarramos nos Encontros de Fé e Política, nos movimentos sociais, nos assentamentos, acampamentos...

Ao menos para nós, o Movimento de Fé e Política preencheu de sonhos, perguntas e de certezas de que sempre teremos quem lute conosco ao passar dos anos por um outro mundo possível.

¹ O texto é de Marcel Silvano, militante do Movimento de Fé e Política de Macaé-RJ.

A TARDE QUE VEIO A NOITE


Essa noite, a tarde veio me visitar em sonho.
O mar aberto da Praia do Pecado, as ondas que atraem os surfistas.
A hora devia ser 17.
O sol já avermelhava e o céu era contaminado pela vermelhidão.
Os garotos jogavam futebol.
A tarde que me veio em sonho trouxe junto a lembrança da adolescência.
O futebol sem preocupação, aquele céu vermelho e aquele mar aberto.
A tarde toda ali, vivendo o melhor da vida, a natureza e a felicidade.
Felicidade de receber a bola no peito, trazer ao chão e, com um toque na bola deixar dois para trás.
Avançar para o terceiro e bater certeiro para entre as havaianas separadas por três passos.
E a comemoração... um mergulho que restaura o fôlego.
Acordei achando que tinha 13 anos.