quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O NÚMERO CERTO É O CONCEITO


Hoje acabou um período muito interessante no cenário político macaense. A votação na Câmara definiu quantas cadeiras felpudas estarão ocupadas, do lado de lá da cerca do Palácio chamado de Cláudio Moacyr e apelidado de “casa do povo”.
Um mandato parlamentar que se dispõe a empenhar bandeiras populares de esquerda, que se compromete a defender e lutar pelas causas da libertação integral do povo. Este mandato deverá estar integralmente voltado às lutar para enfrentar os problemas do mundo. Talvez, hoje numa lista de dez, encontremos três ou quatro vezes o item democracia.
Vivemos numa ditadura econômica, já dizia o bom e velho Zé (José Saramago). Não percebemos que a ditadura mudou. Uma situação que podemos chamar capitalismo autoritário. Não mais são precisos militares, nem políticos corruptos, nem torturas e mortes para dar sobrevida a regimes. Esse modelo significa partir de um conceito de êxito. Os melhores triunfarão na vida, e esse triunfo é refletido em acúmulo de bens, em ter mais, concentrar mais, ganhar mais dinheiro. Enfim, ter muito, o mais que se pode. A máquina da economia gira e empurra a todos aos seus interesses. As guerras justificadas, são exemplos. Também a compulsão por comprar tudo que a máquina oferece (mais carros, mais casas, mais terras, mais bens) está nesse conceito.
E o cidadão passa a ser tratado como cliente. E a política como mercadoria. O mercado define que o negro da América do Norte é contra a guerra e trará estabilidade. Mas ele amplia as tropas, não desativa Guantânamo e vive no centro da crise econômica, despejando dinheiro público para instituições nada democráticas.
Cidadão-consumidor é direcionado como períodos de moda. Estamos na moda da democracia e o cidadão compra. O conceito de democracia direta, plena e cidadã. Pouco ou nada tem a ver com o conceito de democracia em vigência. Uma democracia que se limita a ir a uma urna de tempos em tempos, digita uma meia dúzia de números ou assinala papeis e depois todos voltam a suas casas. Elege pessoas que representam esse ou aquele partido, ou se aproveitam desse ou daquele partido, e depois fazer do poder aquilo que bem entender. Esse cenário não contempla quem busca um mundo melhor.  
Num cenário mais complexo, globalizado, esses políticos não mandam nada. Talvez mandem, numa situação de criar ou não um imposto, melhorar ou não um serviço. Mas, transformar a vida do planeta em algo melhor para todos, está longe de ser decisão dos parlamentos ou dos partidos no atual momento histórico. Quem manda é o capital, é o poder econômico, são as multinacionais. FMI, OMC, as grandes organizações internacionais não são democráticas e decidem para onde o mundo deve girar.
Fato é que tudo se discute nesse mundo, mas estamos proibidos de discutir a democracia. É nos dito que há democracia e pronto. Discutir cadeiras de vereador num município recheado de petrodólares, lotado de gigantes do petróleo mundial. Empresas que financiam guerra no médio oriente, que destroem a natureza pela Ásia e África e que bancam a política financeira e eleitoral dos EUA, que ceifam vidas de trabalhadores no México, na Venezuela, na Bolívia, no Brasil e na Bacia de Campos. Essas estão aqui e, nós discutimos as cadeiras dos vereadores como se o mundo acabasse ali, digo, como se o mundo começasse a girar a partir dali.
Ousemos ser grandes como nossa realidade nos desafia. Macaé tem todas as interferências dos cenários mundiais, econômicos, financeiros, sociais e, por que não, bélicos. Lembro que ao início da guerra do Iraque, em que Bush Filho e a mídia (a serviço das empresas de petróleo, do sistema financeiro e da indústria bélica) usaram como justificativa as armas químicas, que ninguém encontrou. Naquele momento alguns movimentos de juventude planejaram um ato em frente à Halliburton, empresa que detém controle de serviços ao exército dos EUA no Iraque.
A grandeza nesse momento não é quanto ao número maior de vereadores na Capital Nacional do Petróleo. Mas, seremos grandes se o debate vitorioso for o de outro mundo possível, começando por amplo debate sobre o papel da democracia e dos parlamentos. Pensar o papel do vereador, do deputado, do senador e, principalmente da sociedade. Com mecanismos de controle social, ferramentas de participação popular, a democracia representativa pode, com atitudes singelas e fáceis de resolver, se tornar cada vez mais participativa e direta.
 Ainda não há essa maturidade no cenário político macaense. Mas é importante frisar que o que está em crise não é o número de cadeiras que aumentaria para 21 e aumentou para 17, mas o que está em crise é o modelo de sociedade, as formas de representação e as concepções de mandatos parlamentares.
Para a população, acredito ser indiferente a quantidade de parlamentar, mas estou certo que é unânime a necessidade de mais qualidade, mais transparência, mais participação. A mudança que queremos para o mundo é mais grave e muito mais urgente e começa por um novo tempo de nova democracia. Isso, foi pouco discutido hoje em Macaé, infelizmente.
O que dignifica o parlamento são alguns poucos bons que topam travar esse debate. Dentre os bons, Danilo Funke. 

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