quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O PT DO SARNEY...

Estamos todos estatalados com os últimos acontecimentos nacionais, em especial, nessas últimas 48 horas que ficaram para trás. Passaram apenas no relógio, mas não sairão das páginas da história do Brasil, do congresso e, principalmente do Partido dos Trabalhadores. As duas perdas de ícones do partido, mais a terrível orientação da atual direção majoritária do PT à bancada petista do senado trouxeram à lona o partido fundamental para a história recente do Brasil.
O Partido dos Trabalhadores foi o principal ator de três décadas de organização e mobilização popular, de diálogo constante com os movimentos organizados e as parcelas mais pobres da sociedade. Também é protagonista de avanços inigualáveis na mudança de perspectiva do país, cuidando da dignidade daqueles que mais necessitam desse cuidado e invertendo o olhar da prioridade.
Mas esse partido assumiu ao pé da letra suas estratégias pragmáticas eleitorais, e acabou por embolar-se na hora de dar mais alguns “passos atrás para dar um para frente”. E levou um grande tombo. A discussão em torno da companheira Marina Silva, figura de inquestionável atuação em favor de outra ordem mundial, de uma sociedade pautada nos valores da libertação dos mais pobres para que não haja nem pobres nem ricos, e exercitava isso, a partir de uma espiritualidade que dá a ela uma serenidade e uma atuação radical (de raiz) em defesa da vida e da sustentabilidade.
A vida e a sustentabilidade que Marina luta é a finalidade da existência do PT. A democracia radical, o cuidado com o planeta a partir da Amazônia até o último ser vivo, nas dimensões sociais, políticas e econômicas. Essa inigualável companheira anuncia sua saída do PT após 30 anos de luta. Tenho me perguntado o que Chico Mendes pensaria neste momento. Talvez as lágrimas choradas pela Marina nos momentos mais íntimos de reflexões fossem o símbolo do sangue deste mártir e junto o sangue de outros que tombaram pela mesma luta.
O Senado Federal também rendeu ao PT a lona. Essa história de antecipar disputa eleitoral com a abertura dos processos, como foi colocado pela atual direção não cola. O Sarney não é aliado de nossas lutas e de nossas utopias. Penso novamente o que pensariam os que sonharam esse partido. O engavetamento dos processos contra Sarney e Virgilio. A crise do Senado não tinha nada a ver com o PT. E agora o PT adotou o ônus do Sarney. O atual presidente do Senado não é saudável para a democracia. Será que tudo que ouvimos sobre a história da figura emblemática do dono do Maranhão não é verdade.
Logo após a decisão dos senadores que votaram pelo arquivamento dos processos, outra perda pesou aos nossos quadros. Flávio Arns (PR), sempre firme nas suas falas a favor da justiça e da vida para todos, ele que também é oriundo de movimentos da Igreja Católica, sobrinho de Zilda Arns da Pastoral da Criança e de Dom Paulo Evaristo Arns, guerreiro contra as torturas e atrocidades da ditadura militar. Flavio se diz envergonhado e anuncia seu afastamento do PT. Assim com Arns, eu tenho vergonha do voto dos três que compõem a comissão de ética e da decisão da direção nacional do partido. Acredito que o melhor caminho não é deixar o PT agora, mas reconheço que motivos eles tiveram para isso. A equivocada decisão da direção nacional, mais uma vez falou contra os apelos da sociedade e apontou para o distanciamento flagrante do partido com suas bases que beira ao desrespeito. Arns e Marina farão imensa falta no processo eleitoral interno do PT que se aproxima, em novembro.


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